sexta-feira, 12 de abril de 2013

PLUG AND PLAY (Marcelo Mira)



Ele cansou do seu papel no universo lúdico dela...

Naquele dia ele cansou... de oscilar entre ser o violão proibido do tio, que ficava escondido em cima do armário ou o Playmobil sem o tampo da cabeça que ficava espalhado por qualquer canto da casa...
O Violão, bonito, mas faltando algumas cordas, só se podia pegar escondido, no meio da tarde enquanto a empregada ou a avó andavam distraídas entre janelas e portas. Era preciso subir no banco bambo, com perigo de cair, de fazer barulho, e tocar baixinho, em puro deleite, durante poucos minutos que valiam o dia, a semana. Mas era proibido. Proibido tem o som mais doce. A poeira já nem era mais vista. A falta de cordas era imperceptível. Até que um dia o tio nota o interesse e acha graça. E dá o violão de graça no colo do sobrinho que arrisca alguns acordes agora já meio sem graça... fácil...

O Playmobil tava sempre ali. Ora embaixo da cama, ora chutado pra debaixo da mesa, ora alguém pisava e fazia um xingamento: “tira essa porra desses bonecos daqui!” . Ora se brincava uma tarde toda e novamente se esquecia por dias e dias, numa caixa ou pelo chão. Chegou em caixa embrulhada, colorida, desejada, aniversário, mas logo se misturou a tantos outros bonecos que assim também chegaram que por fim perdeu a raridade. Vulgo. E teve que se contentar em apenas estar. Aqui e acolá. Às vezes servindo de alvo de um ataque apache, às vezes servindo de munição contra um muro ou um irmão mais novo. Banal...
Quando o menino cresce ou violão perde a graça,ou vira uma guitarra, um saxofone, uma partitura. O Playmobil perde a graça, vai pra caixa de madeira no quarto dos fundos. Ou não, vira uma estória, um roteiro, um filme de animação, uma música. Ficam na mente pra sempre, mas já não ocupam espaço físico. Foram parar nos porões-do-belo- ser. Lá onde ,depois que a gente cresce, fica fechado, sem sol, mas a chave sempre à mão pra uma descida rápida quando se é necessário lembrar o quanto aquilo era bom e feliz.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

8 ANOS DE PÉ. 8 ANOS DE SAMPA.

Dia 20 de outubro sempre foi um dia especial pra mim. Afinal é aniversário de Dona Vera Lucia, minha mãe. Mas há 8 anos esse dia virou um marco na minha vida. No dia 20 de outubro de 2002 eu me mudava de Brasilia para São Paulo.
Vim com meus companheiros de banda, o Alma Djem. Viemos de ônibus, mudança na mala. Quase não conversamos uns com os outros durante as 12 horas de trajeto. Era o olhar perdido na janela, fone no ouvido, como se estivéssemos chegando numa batalha. E realmente estávamos.
Chegamos num domingo. Nosso empresário alugou dois quartos na famosa "Casa Amarela". Uma casa na Zona Sul de Sã0 Paulo que abrigou bandas e pessoas ligadas à música que se viviam numa espécie de República liberal. Um dos quartos era o estúdio de ensaio. Geladeira comunitária nem sempre cheia, mas sempre tinha uma cerva, um pedaço de carne pra botar na churrasqueira improvisada de tijolo e um digestivo pra depois do almoço. Lá só se falava e se vivia música. Foi nessa casa que compus uma das músicas que mais gosto PASSOS PELA RUA. Foi um aprendizado saber que a partir dali eu fazia meus horários, minhas metas, alimentava meus sonhos e respondia pelos meus fracassos. Bem diferente de Brasilia, onde eu tocava a banda mas tambem era funcionário público.
Rodei São Paulo de ônibus, metrô, caronas e mais caronas, dia e noite, querendo desvendar a cidade. Tentando entender seus mecanismos, suas leis, suas quebradas, suas tribos. O tempo foi passando e São Paulo vicia. Amigos vinham e voltavam pras suas cidades. Não se adaptavam. E eu fui passando, fazendo shows com a banda, tocando na noite com meu violão, compondo, chorando, conquistando amigos e lugares. Abrindo mais portas que fechando. E nisso já se vão 8 anos.
São Paulo, o Caos em ordem, onde a ordem de chegada nem sempre é justa, mas é verdadeira. Terra dos que buscam mais, dos que erram mais, dos que vem para o tudo ou nada,o verdadeiro Vale Tudo de cada dia. Que American Dream que nada. Quero ver é viver o " Sonho Paulistano".
Um salve pros amigos paulistanos que me receberam com tanto carinho e sempre me ajudaram a prosseguir.
Obrigado São Paulo por me mostrar o que é a vida real. Por sua causa já não temo mais nada nem lugar nenhum.

MARCELO MIRA


"Enquanto Deus deixar a gente pensa,
Enquanto não pagar a gente fala"

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DO ATACAMA A ITAQUERA

Estadão.com.br "O último socorrista da equipe de resgate na mina chilena San José, Manuel González, acaba de chegar à superfície, após ser içado pela cápsula Fênix 2.

“Tomara que nos sirva de experiência”, declarou González ao sair da cápsula, perguntado pelo presidente chileno, Sebastián Piñera, sobre o que ele tinha a comentar".

-Tomara mesmo que sirva de experiência.

Subiram 33 mineiros. Tudo certo. O antipenúltimo socorrista. O penúltimo socorrista. Tudo certo. Aí ficou um. Um que não tinha ficado preso. Um que desceu pra ajudar. Pra cumprir uma obrigação, pra sei lá...

A cápsula subiu com o último... E ele ficou lá. Sozinho. Andou pra lá e pra cá. Pensou na vida, na mulher, nos filhos, nos planos. 700 metros abaixo da terra. Se a capsula emperrar, quantos meses mais? Se a terra tremer, quantos dias mais? Ele e ele mesmo. Sem massagem.

Mas tudo ali era só dele. Big Brother Mine. Eu, Eu, e meus pensamentos. Eu, eu e o mundo.

To lutando a guerra de quem? Essa mina é mina do que?

Vamos descobrir o ouro dos tolos, o santo sudário, bauxita, amianto, prata ou chita?

Quantos morrem soterrados? Quero subir. Quero emergir.

E se deslizar a terra?

E se deflagram a guerra?

To eu aqui, de Platão, a caverna.

A intensidade interna.

A dúvida eterna

A ressureição na terra,

Do Atacama a Itaquera.


"Enquanto Deus Deixar a gente Pensa,

Enquanto não pagar a gente fala"

MARCELO MIRA



quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ALÔ, ENTÃO.

Salve Galera,
Faz tempo que não apareço por aqui. Muita coisa boa vem acontecendo nos últimos tempos. Depois de vários anos (12 anos desde o lançamento do primeiro disco do Alma Djem, minha ex banda) batalhando pra entrar uma música numa novela , entregando Cds pra várias pessoas-que-conhecem-pessoas-que-vão-dar-uma-força, a gravadora tentando, a editora tentando (ufa!!!) escolheram Roda Gigante 2 para a novela escrito nas estrelas, e um tempo depois Passos pela Rua entrou nessa nova temporada de Malhação.
Quando vc faz um trabalho vc quer que ele chegue no máximo de pessoas possível. E além das rádios, as novelas tem um alcance enorme. Principalmente Malhação, onde a música se espalha pelos adolescentes. Nada melhor pra quem quer passar uma mensagem positiva que conseguir passar isso pras futuras gerações.
Tudo bem que estrada mesmo que é bom ainda não tá rolando nessa nova fase em carreira solo, pós Alma Djem. Mas estamos trabalhando para mudar isso muito em breve. Paciência é uma virtude e acho que é a minha provação rsrs.
Acabei de ler a Autobiografia do Agassi, como já disse antes num post. É impressionante como o cara abriu o jogo. Não só o dele, diga-se de passagem. Abriu Brooke Shields, abriu Sampras, abriu a família.
Acho nobre num mundo onde tá todo mundo se escondendo, todo mundo com medo de emitir suas opiniões, todo mundo querendo ser politicamente correto pra não ser apontado nem julgado.
Além do que é uma história linda que mostra que sucesso pra quem tá dentro é bem diferente de sucesso pra quem tá de fora.
Acabei de passar uns dias no Rio de Janeiro. Preciso estar mais por lá. Me inspiro pra compor, vejo novos amigos e parceiros de música, respiro um ar diferente.
O problema é que Sampa vicia. A correria, os serviços, a velocidade de ação e pensamento. O ideal seria ficar na ponte aérea. Quem sabe logo eu consiga ter uma base aqui em Sampa outra no Rio, sem esquecer é claro Brasília , onde tenho várias pessoas muito queridas. Mas Brasília tem a casa da minha mãe que é uma delícia, um quarto meu, comidinha na mesa, geladeira cheia e eu não abro mão.
No mais, tava aqui dando uma geral no HD do meu PC que tá cheio de lixo cibernético e resolvi dar uma passada pra dar um alô.
Alô, então.
MARCELO MIRA

quinta-feira, 15 de julho de 2010

NO MEIO DE UM VOO QUALQUER

È apenas mais um voo. Mais um de muitos que ainda quero pegar na minha vida artística. E cada voo è uma expectativa diferente. Nunca sei a localização das poltronas. Hoje por exemplo, 19 A. È no meio, è atrás? Não sei. Mas o que mais me preocupa è que seja na janela. E é. Melhor que isso só se nao tiver alguem no meio. Nao tem. Melhor ainda se tiver uma menina bonita no corredor. E tem.

Em dias normais, solteiro que estou, esperaria a primeira oportunidade de puxar assunto. Mas hoje è um dia diferente. Tenho pensado muito na minha vida pra desperdiçar essa concentração com uma conversa banal ou uma cantada barata. Saco meu livro, pelo qual estou apaixonado. A autobiografia de Andre Agassi, o mais rebelde , incompreendido, genial e polemico tenista de todos os tempos. Muito bom ler sua trajetoria e ver o quanto a minha tem pontos comuns. A mesma sede de vencer que muitas vezes acaba atrasando e atrapalhando tudo, mas que no final das contas é o que faz voce executar os melhores match points.

Coloco meu i pod no ouvido, a garota bonita coloca o dela. Mas ela espreita meu livro. Nos olhamos de canto de olho. O voo fica quase uma hora parado em solo. Às vezes solto um palavrao baixo, às vezes um bocejo, às vezes uma gargalhada com as palhaçadas de Agassi. Ela espreita mais ainda o livro. Deve estar pensando: que diabos de livro é esse que esse cara não para de ler. E eu nao deixo ela ver de jeito nenhum. Aguço a curiosidade.

Ela rapidamente larga a revista da Cia aérea e saca seu livro tambem. Agora sou eu que espreito o livro dela. Gráficos, Fórmulas, que interessante. Deve estar estudando algo muito importante. Mas logo vejo que é algo muito chato, porque rapidamente o livro volta pra bolsa. O Voo continua demorando a subir, mas agora não se pode mais usar aparelhos eletronicos. Ou è leitura ou é divagação. Eu continuo na leitura e ela na divagação. Ela começa a me olhar mais fixamente como quem diz: " Vc nao vai conversar comigo? Como assim?" E eu respondo mentalmente : Nao minha linda, hoje eu nao vou puxar assunto com vc. Hoje meu assunto è comigo.

O Aviao sobe finalmente. Chove em Sao paulo. Tenho a mania de acompanhar a decolagem concentrado em qualquer coisa que possa dar errado. Decolagem é o momento mais tenso. Como se eu pudesse fazer algo em caso de problema… Saímos do chão. Ok. Pego meu livro novamente , mas logo vem uma forte turbulencia. Não tiro os olhos do livro mas minha fisionomia é de apreensão. Ela continua me observando, agora em vantagem, porque não demonstra nenhuma apreensão. Tie Break.

Passa a Turbulencia, deito o banco, tiro o tenis e peco licenca a ela pra pegar minha mochila no bagageiro. Tiro meu laptop e penso: vou escrever sobre isso pro meu blog. E cá estou. No meio de um voo qualquer escrevendo pro meu Blog mais um texto qualquer.

MARCELO MIRA

domingo, 11 de julho de 2010

O BOTÃO


Dentro da gente
Existe um pequeno botão
Que basta a vontade de girá-lo
Pra que se mude tudo:
O mal humor,
A tristeza,
A inveja e a doença.
Gire o seu.
Ele vai insistir em voltar.
Gire novamente, e
ele vai continuar tentando voltar à posição inicial
agora gire e segure um pouco,
um pouco mais, um pouco mais,
Até que ele já não crie resistência e você o domine completamente.
É aí que começa a vida.

MARCELO MIRA

quarta-feira, 9 de junho de 2010

MÃES E FILHAS


Observador que sou por natureza e hoje também por profissão, confesso que adoro prestar atenção na vida dos outros.

E uma cena cotidiana sempre me intriga a imaginação. É quando uma mãe, jovem senhora, bonita, anda com sua filha adolescente, quase mulher, bonita, pelas ruas da cidade.

Fico imaginando o que se passa na cabeça das duas. Mulheres são competitivas por natureza, fato. Porém nada é maior que o amor de mãe/filha(o). E aí? Como elas lidam com tudo isso?

Os olhares dos espectadores se dividem. Mas a beleza da juventude é arrebatadora e vence, é claro. Impossível discordar. O brilho da pele, do cabelo, dos olhos, o jeito de andar com uma despretensão pretenciosa, que testa limites, que testa o poder de sedução. As meninas sabem como trafegar e serem notadas. As mães vão colhendo esses olhares pras suas filhas com um pouco de ciúme, com instinto de proteção aguçado e com uma certa alegria de saber que o futuro da cria será próspero em se tratando de opções para o amor. Vai-se assinando, dia a dia um atestado de envelhecimento. Aquela coisa de dar a vez. A não ser, claro, que essa mãe seja a Luíza Brunet.

Que engraçada é a natureza humana.


Enquanto não pagar a gente pensa,

Enquanto Deus deixar a gente fala.


MARCELO MIRA